maio 30, 2009


"Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!

Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!

Mas dura planície, praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.

Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles — teu pulso divida
Minh'alma do mundo!

Ah, se, como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar -
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!

Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver -
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?

Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, ó vento; do chão da existência,
De ser um lugar!

E, pela alta noite que fazes mais'scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.

E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!

Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!"


(VENDAVAL - Fernando Pessoa)

maio 28, 2009

Pink Floyd - Wish you were here

So,
So you think you can tell
Heaven from Hell,
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

Did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
Did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears
Wish you were here


"Ao mediar a tarde desse dia
Quando ia o habitual adeus eu dar-te,
Foi uma vaga pena de deixar-te
O que me fez saber que te queria."

maio 24, 2009

"O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos.

Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.

Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
Eh mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.

O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.

O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente

Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.

Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança."

* madrugada quando fui acordada pelo poema no Rio de Janeiro, 10 de julho de 1994.

(O POEMA DO SEMELHANTE - Elisa Lucinda)

maio 22, 2009

"Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."


(POEMA DO AMIGO APRENDIZ - Fernando Pessoa)

maio 20, 2009

Ennio Morricone - Gabriel's Oboe

Sarah Brightman - Nella Fantasia

Nella fantasia io vedo un mondo giusto,
Li tutti vivono in pace e in onestà.
Io sogno d'anime che sono sempre libere,
Come le nuvole che volano,
Pien' d'umanità in fondo all'anima.

Nella fantasia io vedo un mondo chiaro,
Li anche la notte è meno oscura.
Io sogno d'anime che sono sempre libere,
Come le nuvole che volano.

Nella fantasia esiste un vento caldo,
Che soffia sulle città, come amico.
Io sogno d'anime che sono sempre libere,
Come le nuvole che volano,
Pien' d'umanità in fondo all'anima.

maio 18, 2009

Sem resposta


Sem avançar ou recuar

nem chegar ou partir
sobrevive-se num enredo de buscas inúteis
de sorrisos forçados
e falsas intenções
das meras projeções na tela do nada que nunca chegou a ser
de tudo que se pode pintar com as cores da imaginação
falácias, conjecturas, ilusões.
Por que sustentar esperanças reinventadas?
Reproduzir mesmos caminhos trocando cenários
arriscar uma dor que já cessou
fantasiar expectativas que feneceram de sede
esquecer tantas perguntas que não tiveram resposta.
Vontade (ou necessidade) de espiar o porvir
deixa-lo se aproximar e afugentar o passado de lembranças vazias.
Nunca gostei de folhas em branco
que sutilmente desafiam e imploram novas composições
de tantas palavras exacerbadas de sentidos
nem sempre fiéis ao sentimento que pretenciosamente ousam expressar.
Ah, quem me dera acolher nos braços a certeza eloqüente que dissesse sim ao meu desejo
esse que pulsa e é tão maior do que aparenta ser...
Como faço para acreditar ser nada se sinto tão intenso cá comigo?

maio 13, 2009

Enfrentamento


Palavras impensadas proferidas quase sempre sem sentido
buscando explicações para não escandalizar o preconceito travestido de moralidade.
Ah, como tenho revisto as minhas convicções de outrora...
como tenho questionado em mim o que antes apontava friamente com minha intransigência imatura.
A vida é vasta e o ser humano por demais complexo
para se curvar aos contrapontos impostos pela tendência tola de racionalizar o que não pode ser racionalizado.
Certo ou errado, verdadeiro ou falso, moral ou imoral, normal ou anormal...
Quem pode dizer?
Quem será o primeiro a atirar a pedra da hipocrisia?
De que valem os sacrossantos padrões?

Cá comigo mesmo, eu sei e não preciso dizer a ninguém...
Cada um que descubra a sua própria verdade
ou viva a sua própria mentira.
Mesmo a mentira não pode ser julgada
não está fadada a ser criticada pela opinião mesquinha dos que fingem ser o que não são.
Ah, o pensamento... Quem pode controla-lo?
Que seria de nós se cada pensamento impuro nos condenasse ao purgatório?
Sou patético quando tento entender o todo. E como ousar tamanha pretensão se sou parte?
Minhas fragilidades, minhas limitações, meus medos, meus pecados...
Não pedirei a ninguém absolvição.
Não quero permissão.
Eis a minha revolução!

maio 11, 2009

Cássia Eller - Non, je ne regrette rien

Para alguém muito especial...

maio 10, 2009

Dia das Mães


"Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho."


(PARA SEMPRE - Carlos Drummond de Andrade)

maio 09, 2009

Cartola - O mundo é um moinho

Ainda é cedo, Amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, Querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, Amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, Querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés

maio 08, 2009

"Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."


(AS SEM RAZÕES DO AMOR - Carlos Drummond de Andrade)

maio 02, 2009

Coldplay - Fix you

When you try your best, but you don't succeed,
When you get what you want, but not what you need,
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse

And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse?

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try, to fix you

And high up above or down below
When you're too in love to let it go
But if you never try, you'll never know
Just what you're worth.

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try, to fix you.

Tears stream down your face,
When you lose something you cannot replace
Tears stream down your face
And I...

Tears stream down your face
I promise you I will learn from my mistakes
Tears stream down your face
And I...

Lights will guide to home
And ignite your bones
And I will try to fix you