junho 30, 2009

Caraminholas


Muito do que vi e senti se perdeu

nos dias que se seguiram
na gente que conheci
nas angústias experimentadas
nas tentativas frustradas
no tempo...
em mim mesmo.

Tudo estava ali...
era eu que não estava.
Por mais que buscasse resgatar
as lembranças me escapavam
em lapsos de cansaço

a me antecipar a resposta
de uma pergunta que não fiz.

Cadê aquele menino-homem de caraminholas na cabeça?
Onde está? - indaguei aflito.
Procurei, procurei... não encontrei.
O sentido de tudo é outro.
O menino não quis mais brincar
e se escondeu.

O homem segue a descobrir
caminhos, pessoas, verdades, dores, sabores...
trocando passos com suas certezas e incertezas
suas lutas, sonhos...
No fundo ele também quer ser feliz.


Dizem que o menino ainda pode ser visto...
Por vezes, se esconde no bolso do paletó
outras adormece sem dizer onde está
alguns atentos percebem suas pegadas aqui e ali
há os que juram poderem enxerga-lo sorrindo no olhar do homem.

Fernanda Porto - Sentado à beira do caminho

"Um barzinho, um violão - Jovem Guarda"
Música: Sentado à beira do caminho
Composição: Erasmo Carlos
Intérprete: Fernanda Porto

junho 25, 2009

Só tu

"Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nestalma, ficaste,
De todas as que eu amei."


(Paulo Setúbal)

junho 21, 2009

Um dia para Álvaro de Campos...

Ao acordar, uma antecipação dos sentimentos do dia me vieram à cabeça. A razão não sei, nem busco. Justificativas quase nunca importam tanto quanto os porquês dos olhos interrogativos. Minha inspiração voa longe à procura de novos ares, cores, às vezes ondas, noutras precisa mais de uma brisa leve, lírios, nuvens, cheiro de alecrim. Seu pouso é incerto e minh'alma mais ainda. Nessas horas esquecidas em devaneios lançados a esmo, sinto cada vez mais que "eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água". Por isso mesmo e por tudo mais que esta manhã me desperta, hoje é dia para Álvaro de Campos.

"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

(...)

Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.

A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas.

(...)

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

(...)

Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.

(...)

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Uma razão para descansar, uma necessidade de me distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim."



(Excertos do poema "Passagem das Horas", cuja autoria foi atribuída por Fernando Pessoa ao seu heterônimo Álvaro de Campos)

junho 10, 2009


"Vosso amigo é a satisfação de vossas necessidades.
Ele é o campo que semeias com carinho e ceifais com agradecimento.
É vossa mesa e vossa lareira.
Pois ides a ele com vossa fome e o procurais em busca da paz.

Quando vosso amigo manifesta seu pensamento,
não temeis o "não" de vossa própria opinião, nem prendeis o sim.

E quando ele se cala, vosso coração continua a ouvir o seu coração,
Porque na amizade, todos os desejos, ideais, esperanças,
nascem e são partilhados sem palavras, numa alegria silenciosa.

Quando vos separeis de vosso amigo, não vos aflijais
Pois o que vós ameis nele pode tornar-se mais claro na sua ausência,
Como para o alpinista a montanha parece mais clara vista da planície.

E que não haja outra finalidade na amizade a não ser o amadurecimento do espírito,
pois o amor que procura outra coisa a não ser a revelação de seu próprio mistério não é o amor, mas uma rede
armada
e somente o inaproveitável é nela apanhado.

E que o melhor de vós próprio seja para o vosso amigo.

Se ele deve conhecer o fluxo de vossa maré, que conheça também o seu refluxo
pois que achais seja vosso amigo para que o procureis somente a fim de matar o tempo?

Procurai-o sempre com horas para viver.
Pois o papel do amigo é o de encher vossa necessidade, e não vosso vazio.

E na doçura da amizade,
que haja risos e o partilhar dos prazeres.

Pois no orvalho de pequenas coisas,
o coração encontra sua manhã e se sente refrescado."

(Gibran Khalil)

junho 06, 2009

Alanis Morissette - That particular time


"Ninguém me venha dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferida,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser
e não me quero encontrar,
que estou dentro de um navio
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.

Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.

Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis a quem não quis."

(Cecília Meireles)

junho 01, 2009

Ana Carolina - Força Estranha

Especial "Elas Cantam Roberto"