abril 12, 2013

"Podia-se ver o chão coberto por folhas de outros outonos. Secas, dormiam sob o silêncio consolador da renúncia, quando um vento forte, vindo, de repente, do lado oeste do passado, estremeceu o jazigo dos desejos. Aprendeu, porém, que o egoísmo não era uma virtude e que, por isso, não roubaria do tempo o único bem que lhe pertencia: as lembranças. Quanto à saudade... Aprendeu, também, que a saudade passa - pelo menos até a próxima ventania."

(Ricardo Pereira)

abril 04, 2013

A hora do cansaço



“As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.”

(Carlos Drummond de Andrade)