janeiro 18, 2010

janeiro 16, 2010

Vai saber? - Marisa Monte



Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha do que duvidar
Pensando bem pode mesmo chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de se dar
E pode aparecer onde ninguém ousaria se pôr
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha o que considerar
Pensando bem pode mesmo chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de jogar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não venha a reconsiderar
Pensando bem pode mesmo chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?

(Composição: Adriana Calcanhotto)

janeiro 15, 2010

Melancolia


Há dias em que melhor seria não acordar
não lembrar de tudo que ainda dói
esquecer os caminhos
silenciar palavras

Há dias em que melhor seria não sentir
e se manter indiferente ao que é alheio de nós
tapar os ouvidos
conter as lágrimas do arrependimento

Há dias em que melhor seria não acreditar
duvidar até mesmo do que parece ser manifesto
falsear olhares, sorrisos...
vagas promessas

Há dias em que a vida se cansa de tentar
Há dias em que a verdade prefere se esconder
Há dias em que a angústia sufoca
Há dias em que a saudade é maior
Há dias em que chorar não adianta
Há dias em que me perco e não me quero encontrar

janeiro 14, 2010


"Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da Terra. Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:

- Vamos brincar de esconde-esconde?

A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE sem poder se conter perguntou:

- Esconde-esconde? Como é isso?

- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.

O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA.
A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou convencendo a DÚVIDA e até mesmo a APATIA que nunca se interessava por nada.

Mas nem todos quiseram participar...

A VERDADE preferiu não se esconder: "- Para que se no final todos me encontram?"
A SOBERBA opinou que era um jogo muito tolo (no fundo o que a incomodava era que a idéia não tivesse sido dela).
A COVARDIA preferiu não se arriscar.

- Um, dois, três, quatro... - começou a contar a LOUCURA.

A primeira a se esconder foi a PRESSA que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra do caminho.
A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.
A GENEROSIDADE quase não conseguiu se esconder, pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos. Se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA. Se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ. Se era o voo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA. Se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim acabou se escondendo em um raio de sol.
O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início: ventilado, cômodo, mas apenas para ele. A MENTIRA se escondeu no fundo do oceano (mentira, na realidade, se escondeu atrás do arco-íris). E a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões.
O ESQUECIMENTO não me recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante.

Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para se esconder, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou uma roseira e, carinhosamente, decidiu se esconder entre suas flores.

A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra.
Depois, se escutou a FÉ discutindo com Deus, no céu, sobre zoologia.
Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.
Em um descuido, a LOUCURA encontrou a INVEJA e, claro, pôde deduzir onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO não teve nem que procurá-lo: ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA.
A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado se esconder.

E assim foi encontrando a todos.

O TALENTO entre a erva fresca, a ANGÚSTIA em uma cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.
Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local.

A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, embaixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de ser dar por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos.
A LOUCURA não sabia o que fazer para se desculpar. Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia.
Desde então, o AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha."

(Autoria desconhecida)

janeiro 10, 2010

"..." - O Teatro Mágico

Tá certo que o nosso
mal jeito foi vital
Pra dispersar o nosso bom
o nosso som pausou!

E por tanta exposição
a disposição cansou...
Secou da fonte da paciência
e nossa excelência ficou lá fora.

Solução é a solidão de nós...
Deixa eu me livrar das minhas marcas
Deixa eu me lembrar de criar asas.

Deixa que esse verão eu faço só
deixa que esse verão eu faço só...
Deixa que nesse verão eu faço o sol.

Só me resta agora acreditar
que esse encontro que se deu não nos traduziu melhor...
A conta da saudade quem é que paga?
Já que estamos brigados de nada
já que estamos fincados em dor.

Lembra?
o que valeu a pena foi nossa cena não ter pressa pra passar...


(Parte final da música "...", do Teatro Mágico)

janeiro 09, 2010

Janeiros - Roberta Sá

É como o vento leve em seu lábio assobiar
a melodia breve lembrando brisa de mar
mexendo maré num vai e vem prá se ofertar
flor que quer desabrochar nasceu
dourando manhã bordando areia
com luz de Candeia prá nunca se apagar

Já passaram dias inteiros
Janeiros, calendário que nunca chega ao fim
início sim, e só recomeçar
bordando areia com luz de Candeia prá nunca se apagar

janeiro 08, 2010

Despertar


A passagem das horas a reverberar palavras
fragmentos de lembranças
do olhar... do sorriso... do arrepio ao primeiro toque
a ansiedade da espera...
a sensação vívida dos momentos...
uma saudade antecipada do que não chegou a ser

Alguns poucos e breves e raros
dias de encantamento
fizeram a vida perceber que pode ser doce
e leve como um sonho do qual despertei

Fica a alegria, o cheiro, a melodia
a verdade das confissões
a incerteza dos porquês
a sensatez das respostas

Guardo tudo que nos permitimos
Guardo muito do pouco que nos aproxima
Guardo pouco do muito que nos afasta
(... e basta)

janeiro 07, 2010

Para ver as meninas - Marisa Monte / Paulinho da Viola

Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco
a dor no peito
Não diga nada
sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais
quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito

janeiro 01, 2010

Receita de Ano Novo


"Para você ganhar belíssimo Ano Novo,
cor de arco-íris ou cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquiva-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependimento
pelas besteiras consumadas,
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."

(Carlos Drummond de Andrade)