fevereiro 28, 2009

"Reaching for something in the distance
So close you can almost taste it
Release your inhibitions
Feel the rain on your skin
No one else can feel it for you
Only you can let it in
No one else, no one else
Can speak the words on your lips
Drench yourself in words unspoken
Live your life with arms wide open
Today is where your book begins
The rest is still unwritten."

(UNWRITTEN - Natasha Bedingfield)
"Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade,
De rosas —
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta."


(COROAI-ME - autoria atribuída por Fernando Pessoa ao seu heterônimo Ricardo Reis)

fevereiro 13, 2009

No Caminho, com Maiakóvski

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

(Eduardo Alves da Costa)

fevereiro 06, 2009

"Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida
e nela só tenho uma chance de fazer o que quero.
Tenho felicidade o bastante para fazê-la doce
dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana
e esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas
elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos."
.
(Clarice Lispector)



Johann Sebastian Bach
Suite for orchestra n. 3 in D major, BWV 1068

Aos meus ouvidos, essa melodia parece ultrapassar os sentidos e aquietar em êxtase mesmo as dores mais pungentes. Sinto-me inebriado de sensações e inundado pelas lembranças de toda a vida, como se possível fosse resgatar em flashes de nostalgia e encanto as frações do tempo que compõem a existência. É, sobretudo, transcendental. Atemporal.

fevereiro 03, 2009

Buscas...

Todos os caminhos que sempre busquei
vão aos poucos convergindo em um só.
Tanta angústia, tantos fantasmas
vão desaparecendo
deixando em mim uma leveza que jamais senti.
Mas ainda falta muito a percorrer...

Por vezes, não me reconheço ao espelho

meu corpo não reconhece o toque
e sou tomado por um estranhamento
pela escuridão de nuvens
por lampejos de agonia
cataclismas de lembranças
do que sou e do que fui.

Quero mais que isso
vez que já não posso regressar.
Preciso ir adiante
conhecer a mim
descobrir o que sinto
e, um dia, enfim, viver a minha verdade.