fevereiro 29, 2008

Até quando?

Não sei por onde começo a narrativa que até evito pensar.
tento evitar, mas não consigo...
tantas são as vozes que indiscretamente indagam, noite e dia, os anos de vida
(e me apavoro, confesso)
Esses dias têm sido difíceis...
tanto que sinto dificuldade de respirar
de viver tanto mais.
Queixo-me em pensamentos e lágrimas
um choro de dentro
(pra mim e por mim)
pra todas as perguntas impossíveis
insisto em tapar os olhos
enxergo apenas o que minha intuição deseja
ouvidos moucos para o que não quero acreditar
uma esperança cega, tresloucada, desesperada...
um despertar aflito do tempo que resta
a agonia das horas que findaram desperdiçadas
tantas vontades, tantos sonhos, tantas queixas...
cansaço constante dos dias que ainda terei que contar
(descontente, incomodado, angustiado)
à espera desse amanhã tardio
ressentido por não vislumbrar mãos estendidas
minha arrogância...
minha intolerância...
meu desassossego.

fevereiro 25, 2008

...

Alguns dias de ócio são de grande valia, mais ainda se desfrutados consigo mesmo. Falo daquela solidão necessária, trancado no mais íntimo de mim mesmo, escondido de tudo quanto é externo (e alheio): pessoas, olhares, palavras, pensamentos...
Recluso enxergo o que não entrevejo quando integrado ao todo.
Sempre é tempo de regressar e preparar nova partida.

fevereiro 12, 2008


Hoje acabou-se-me a palavra,
e nenhuma lágrima vem
Ai, se a vida se me acabara
também.

A profusão do mundo, imensa,
tem tudo, tudo - e nada tem.
Onde repousar a cabeça?
No além?

Fala-se com os homens, com os santos,
consigo, com Deus... E ninguém
entende o que se está contando
e a quem...

Mas terra e sol, luas e estrelas
giram de tal maneira bem
que a alma desanima de queixas.
Amém.

(AMÉM - Cecília Meireles)

fevereiro 10, 2008

"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação."

(OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO - Carlos Drummond de Andrade)

fevereiro 03, 2008


"(...) Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio. Me atirar lá do alto na certeza de que alguém, lá em baixo, seguraria minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo, mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo, quase: cinema, circo, parque de diversão, ciganos... Aquela gente encantada que chegava e seguia... Era disso que eu tinha medo: do que não ficava para sempre."
(Era uma vez - Antônio Bivar)