dezembro 25, 2008

"Subi correndo no primeiro bonde, sem esperar que parasse, sem saber para onde ia.
Meu caminho, pensei confuso, meu caminho não cabe nos trilhos de um bonde".
(Caio Fernando Abreu)

dezembro 15, 2008

"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer."
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(Clarice Lispector)

dezembro 10, 2008

ELEPHANT GUN - Beirut

Ontem, ouvi esta música pela primeira vez... É tema da mini-série "Capitu". Trata-se de uma belíssima produção baseada na obra "Dom Casmurro", escrita por Machado de Assis. Sou suspeito pra falar desse livro porque, talvez, tenha sido ele a despertar em mim um interesse maior pela literatura. Li por três vezes, em épocas diferentes. Curioso é que, na primeira, jurava ser Capitu inocente e vítima dos delírios do Bentinho. Nas outras vezes, o narrador me convenceu da traição. Suposições... O que sempre me intrigou foi a descrição poética dos "olhos de ressaca, de cigana oblíqua e dissimulada". Acho que sempre quis (ou temi) encontra-los e, de fato, inesperadamente aconteceu... Mas, não vou dizer: é segredo! A intenção aqui é expressar o meu encantamento pela obra, pelo escritor, pela produção, pela música... enfim, pela arte.

"O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o resto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo." (Excerto do Capítulo II - DOM CASMURRO)

dezembro 06, 2008

"Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..."


(BILHETE - Mario Quintana)

dezembro 04, 2008

FIELDS OF GOLD
Eva Cassidy

Na mesma direção...

O que eu quero é sentir o amor me afagar os cabelos
o pouso da mão sobre a face
o olhar que dispensa palavras
o toque que acaricia e ameniza as dores da alma.

Quero ser abraçado e sentir o amparo da cumplicidade
o beijo que arrepia
o entorpecimento que faz o corpo estremecer
e o coração transbordar sentimentos.

Quero sorrisos sinceros
o apoio incondicional
a mão estendida
a fé de ser capaz.

Quero que fique comigo não por breves instantes
mas noite e dia
pra perfumar minha existência
pra aquietar o meu espírito.


Quero acordar com sua presença
dormir sentindo sua respiração
velar seu sono
testemunhar cada amanhecer.

Quero acreditar ser possível
duas vidas em uma só
um só caminho
na mesma direção.

dezembro 02, 2008

"Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma."

(DOIS POEMAS - autoria atribuída por Fernando Pessoa ao seu heterônimo Alberto Caeiro)