É simplesmente isso que lhes ofereço. Sem métrica, sem pretensões (embora a ausência possa ser a maior de todas elas). São fragmentos: devaneios em verso e prosa. Quem sabe um desatino, metáforas, as vozes dos meus alteregos.
janeiro 31, 2008
Epifania
janeiro 24, 2008
MEU BEM - Ojana Dominique
"Meu bem
eu finjo que está tudo muito bem
que eu ando pelo mundo e me divirto também
mas penso em você e me confundo também.
Meu bem
eu finjo que o nosso lance acabou
que eu fiz as malas de mudança pra um novo amor
mas penso em você
nas marcas que você deixou.
Meu bem
seu bem me faz tão bem
sigo os teus passos de manhã.
Esse sol a pino
vem seu beijo e arde a tarde
brisa leve, flor de laranjeira.
De madrugada
abro a janela
lua mais minguante ao teu amor
Ah... um brinde
Ah... um livro bom
retrato no tempo que parou.
Depois que você foi pisar outro jardim
é só mistério
solidão vestida de cetim.
Não quero confessar
mas é só te lembrar
que eu volto pro mesmo lugar.
Quero esquecer o rádio, a tv
nossa música ainda está no ar.
Meu bem
seu bem me faz tão bem.
Deixa eu dizer mais uma vez...
Meu bem
seu bem me faz tão bem...
deixa eu ouvir também."
janeiro 21, 2008

Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir..."
(ADIAMENTO - autoria atribuída por Fernando Pessoa ao seu heterônimo Álvaro de Campos)

Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta – até essa vida...
Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me náufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus."
(Excerto extraído do poema 'Lisbon revisited - 1926' cuja autoria foi atribuída por Fernando Pessoa ao seu heterônimo Álvaro de Campos)
janeiro 18, 2008
janeiro 12, 2008
Confissões
Penoso admitir tantas falhas, tantas máscaras - meus medos.
Não raro tenho sido transparente além do que deveria.
Os ponteiros avançam e não mais aguardam o meu tempo.
Como acompanha-los? Como perseguir essa verdade que me atormenta os sentidos?
Sei que não mais consigo suportar.
Dentro de mim,
um grito mudo implora salvação.
Quero partir... E quero mais do que tenho tido...
Percebi que há muita vida para se viver.
E que preciso aprender.
Seja como for, rogarei pelo perdão dos meus pecados.
Dispenso lágrimas e conselhos.
Peço que me deixem cá comigo mesmo...
Para que eu consiga respirar.