março 13, 2009

Quis compor versos, mas a inspiração parece me escapar por entre os dedos. Talvez seja mais fácil desabafar em prosa ou, quem sabe, porque eu esteja meio oco. Um vazio imenso que me consome, que me atormenta, que me impulsiona a buscar a esmo como um andarilho errante, sem pouso certo, agonizando uma espera que não sabe onde e quando termina. Olho as pessoas ao redor e nada me prende. Trago em mim uma impaciência que me angustia e, mesmo esquecida, fere o meu coração. A alma - de tão apertada - sufoca. Acho que nem gritar consigo, mas de nada adiantaria. Também não quero gastar a boa vontade alheia com as minhas lamentações. É algo tão meu, tão doído, tão estupidamente absurdo... que até me canso de mim. E choro e me desespero e me desiludo e sofro e espero e me ponho a escrever.
Mergulhado no desassossego* do Pessoa e entorpecido pela doce melodia das ilhas dos açores**, me dou colo...
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"Nessas horas lentas e vazias, sobe-me à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar."
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"É nestas horas de um abismo na alma que o mais pequeno pormenor me oprime como uma carta de adeus. Sinto-me constantemente numa véspera de despertar, sofro-me o invólucro de mim mesmo, num abafamento de conclusões."
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"Sou como alguém que procura ao acaso, não sabendo onde foi oculto o objecto que lhe não disseram o que é. Jogamos às escondidas com ninguém."
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(*) Livro do Desassossego, excertos dos fragmentos 3 e 63.
(**) As ilhas dos açores, Madredeus.

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